Matriz circulante

Em matemática, uma matriz circulante é uma matriz quadrada em que cada linha i é formada por um deslocamento cíclico de i posições de uma mesma lista de elementos {a0,a1,a2 ... an-1}, ou seja

A = [ a 0 a 1 a 2 a n 1 a n 1 a 0 a 1 a n 2 a n 1 a 1 a 2 a n 1 a 0 a 1 a 1 a n 2 a n 1 a 0 ] ( 1 a ) {\displaystyle \mathbf {A} ={\begin{bmatrix}a_{0}&a_{1}&a_{2}&\ldots &\ldots &a_{n-1}\\a_{n-1}&a_{0}&a_{1}&\ddots &&\vdots \\a_{n-2}&a_{n-1}&\ddots &\ddots &\ddots &\vdots \\\vdots &\ddots &\ddots &\ddots &a_{1}&a_{2}\\\vdots &&\ddots &a_{n-1}&a_{0}&a_{1}\\a_{1}&\ldots &\ldots &a_{n-2}&a_{n-1}&a_{0}\end{bmatrix}}\qquad \qquad (1a)}

que é um caso especial de matriz de Toeplitz. Toda matriz circulante é um quadrado latino. Uma definição alternativa e equaivalente a (1a) é

A k , j = a ( j k ) m o d n 0 k , j n 1 ( 1 b ) {\displaystyle \mathbf {A} _{k,j}=a_{(j-k)\;mod\;n}\qquad 0\;\leq \;k,j\;\leq \;n-1\qquad (1b)}

onde mod é a função módulo e n é o número de linhas de A[1][2][3].

Autovalores e autovetores

Os autovalores λ e autovetores v de A são facilmente calculados:

λ m = k = 0 n 1 a k e 2 π i m k n 0 m n 1 ( 2 a ) {\displaystyle \lambda _{m}=\sum _{k=0}^{n-1}a_{k}\cdot e^{\frac {-2\pi imk}{n}}\qquad 0\;\leq \;m\;\leq \;n-1\qquad (2a)}
v m = 1 n [ 1 , e 2 π i m n , . . . e 2 π i m ( n 1 ) n ] 1 m n 1 ( 2 b ) {\displaystyle \mathbf {v} _{m}={\sqrt {\frac {1}{n}}}\;\left[1,e^{\frac {-2\pi im}{n}},\;...\;e^{\frac {-2\pi im(n-1)}{n}}\right]\qquad 1\;\leq \;m\;\leq \;n-1\qquad (2b)}

A equação (2a) indica que os autovalores de uma matriz circulante qualquer são a transformada discreta de Fourier (DFT) do vetor a = [a0,a1,a2 ... an-1]. Por isso vale também a relação inversa

a k = 1 n j = 0 n 1 λ j e 2 π i j k n 0 k n 1 ( 3 a ) {\displaystyle a_{k}={\frac {1}{n}}\;\sum _{j=0}^{n-1}\lambda _{j}\cdot e^{\frac {-2\pi ijk}{n}}\qquad 0\;\leq \;k\;\leq \;n-1\qquad (3a)}

Em suma, a sequência dos autovalores de uma matriz circulante são iguais à DFT da primeira linha dessa matriz, e essa primeira linha da matriz é igual à DFT inversa da sequência dos autovalores.

A propriedade elementar dos autovalores λ e dos autovetores v de uma matriz qualquer B

B v m = λ m v m {\displaystyle \mathbf {B} \;\mathbf {v} _{m}=\lambda _{m}\;\mathbf {v} _{m}}

pode ser escrita de forma alternativa e equivalente como

B V = V Λ ( 2 c ) {\displaystyle \mathbf {B} \;\mathbf {V} =\mathbf {V} \;\mathbf {\Lambda } \qquad (2c)}

onde V é a matriz composta pelos autovetores dispostos verticalmente

V = [ v 0 v 1 v 2 v n 1 ] ( 2 d ) {\displaystyle \mathbf {V} ={\begin{bmatrix}\mathbf {v} _{0}&\mathbf {v} _{1}&\mathbf {v} _{2}&\ldots &\ldots &\mathbf {v} _{n-1}\end{bmatrix}}\qquad (2d)}

e Λ é a matriz diagonal formada pelos autovalores

Λ = [ λ 0 0 0 0 0 λ 1 0 0 0 0 0 0 λ n 2 0 0 0 0 λ n 1 ] ( 2 e ) {\displaystyle \mathbf {\Lambda } ={\begin{bmatrix}\lambda _{0}&0&0&\ldots &\ldots &0\\0&\lambda _{1}&0&\ddots &&\vdots \\0&0&\ddots &\ddots &\ddots &\vdots \\\vdots &\ddots &\ddots &\ddots &0&0\\\vdots &&\ddots &0&\lambda _{n-2}&0\\0&\ldots &\ldots &0&0&\lambda _{n-1}\end{bmatrix}}\qquad \qquad (2e)}

A equação (2b) garante que, para toda matriz circulante, V é uma matriz unitária e que

V V = V V = I ( 2 f ) {\displaystyle \mathbf {V} \;\mathbf {V} ^{*}=\mathbf {V} ^{*}\;\mathbf {V} =\mathbf {I} \qquad (2f)}

onde o asterisco (*) denota a matriz transposta conjugada e I é a matriz identidade de n linhas. Substituindo (2f) em (2c), temos que, para uma matriz circulante qualquer A

A = V Λ V ( 2 g ) {\displaystyle \mathbf {A} =\mathbf {V} \;\mathbf {\Lambda } \;\mathbf {V} ^{*}\qquad (2g)}
Λ = V A V ( 2 h ) {\displaystyle \mathbf {\Lambda } =\mathbf {V} ^{*}\;\mathbf {A} \;\mathbf {V} \qquad (2h)}

A equação (2g) indica que toda matriz circulante é uma matriz normal[4][nota 1].

Propriedades algébricas

Se A e C são matrizes circulantes, então valem as seguintes propriedades:

Produto

A C = C A = D = V L V ( 4 a ) {\displaystyle \mathbf {A} \;\mathbf {C} =\mathbf {C} \;\mathbf {A} =\mathbf {D} =\mathbf {V} \;\mathbf {L} \;\mathbf {V} ^{*}\qquad (4a)}

onde L é a matriz diagonal cujos elementos são o produto dos respectivos autovalores de A e de C. D é também uma matriz circulante.

Adição

A + C = D = V L V ( 4 b ) {\displaystyle \mathbf {A} \;+\;\mathbf {C} =\mathbf {D} =\mathbf {V} \;\mathbf {L} \;\mathbf {V} ^{*}\qquad (4b)}

onde L é a matriz diagonal cujos elementos são a soma dos respectivos autovalores de A e de C. D é também uma matriz circulante.

Inversa

Se nenhum autovalor for nulo, então A é inversível e

A 1 = V λ 1 V ( 4 c ) {\displaystyle \mathbf {A} ^{-1}=\mathbf {V} \;\mathbf {\lambda } ^{-1}\;\mathbf {V} ^{*}\qquad (4c)}

A-1 é também uma matriz circulante[5][3].

Linearidade

Se a e b são escalares, então D = aA + bC é também uma matriz circulante[3].

Notas

  1. Como V é unitária, V* = V-1, (2g) e (2h) podem ser escritas também assim:
    A = V Λ V 1 {\displaystyle \mathbf {A} =\mathbf {V} \;\mathbf {\Lambda } \;\mathbf {V} ^{-1}}
    Λ = V 1 A V {\displaystyle \mathbf {\Lambda } =\mathbf {V} ^{-1}\;\mathbf {A} \;\mathbf {V} }

Referências

  1. Gray, R. - Toeplitz and Circulant Matrices: A review, cap. 1, pág. 3, disponível em http://ee.stanford.edu/~gray/toeplitz.pdf, acessado em 06/05/2014
  2. MathWorld: Circulant Matrix, disponível em http://mathworld.wolfram.com/CirculantMatrix.html, acessado em 06/05/2014
  3. a b c Bronson, R. - Matrix Operations, cap. 18, pág. 160, 1989, McGraw-Hill, ISBN 0-07-007978-1
  4. Gray, R. - op. cit., cap. 3, pp. 32 a 34
  5. Gray, R. - op. cit., cap. 3, pp. 34 a 35


  • v
  • d
  • e
Classes de matriz
Elementos explicitamente restritos
Constante
Condições sobre
autovalores e autovetores
Satisfazendo condições
sobre produtos ou inversas
Com aplicações específicas
Usada em estatística
  • Bernoulli
  • Centro
  • Correlação
  • Covariância
  • Dispersão
  • Duplamente estocástica
  • Informação de Fisher
  • Projeção
  • Precisão
  • Estocástica
  • Transição
Usada em teoria dos grafos
Usada em ciência e engenharia
Termos relacionados
  • Categoria:Matrizes