Teorema de Mittag-Leffler

Na análise complexa, o teorema de Mittag-Leffler diz respeito à existência de funções meromorfas com polos prescritos. Por outro lado, pode ser usado para expressar qualquer função meromorfa como uma soma de frações parciais. É irmão do teorema de fatoração de Weierstrass, que afirma a existência de funções holomorfas com zeros prescritos. Tem o nome de Gösta Mittag-Leffler.

Magnus Gösta Mittag-Leffler, matemático sueco

O Teorema

Seja D {\displaystyle D} um conjunto aberto em C {\displaystyle \mathbb {C} } e E D {\displaystyle E\subset D} um subconjunto discreto fechado. Para cada a {\displaystyle a} em E {\displaystyle E} , tem-se que p a ( z ) {\displaystyle p_{a}(z)} é um polinômio em 1 / ( z a ) {\displaystyle 1/(z-a)} . Portanto, existe uma função meromorfa f {\displaystyle f} em D {\displaystyle D} tal que para cada a E {\displaystyle a\in E} , a função f ( z ) p a ( z ) {\displaystyle f(z)-p_{a}(z)} tem apenas uma singularidade removível em a {\displaystyle a} . Em especial, a principal parte da função f {\displaystyle f} em a {\displaystyle a} é p a ( z ) {\displaystyle p_{a}(z)} .

Pode-se provar o teorema da seguinte forma abaixo:

Se E {\displaystyle E} é finito, basta dizer que f ( z ) = a E p a ( z ) {\displaystyle f(z)=\sum _{a\in E}p_{a}(z)} .

E se E {\displaystyle E} não é finito, considera-se a soma finita S F ( z ) = a F p a ( z ) {\displaystyle S_{F}(z)=\sum _{a\in F}p_{a}(z)} em que F {\displaystyle F} é um subconjunto finito de E {\displaystyle E} .

Enquanto que o S F ( z ) {\displaystyle S_{F}(z)} possa não convergir na medida em que F se aproxima de E, pode-se subtrair funções racionais bem escolhidas com polos fora de D (fornecido pelo teorema de Runge), sem que altere as partes principais do S F ( z ) {\displaystyle S_{F}(z)} e de forma que a convergência seja garantida.

Exemplo

Supondo que deseja-se uma função meromorfa com polos simples de resíduo 1 em todos os números inteiros positivos. Com a notação vista acima, escreve-se:

p k = 1 z k {\displaystyle p_{k}={\frac {1}{z-k}}}

e E = Z + {\displaystyle E=\mathbb {Z} ^{+}} , o teorema de Mittag-Leffler afirma (não construtivamente) a existência de uma função meromorfa f {\displaystyle f} com parte principal p k ( z ) {\displaystyle p_{k}(z)} em z = k {\displaystyle z=k} para cada número inteiro positivo k {\displaystyle k} . Assim, a f {\displaystyle f} tem as propriedades desejadas. De forma mais construtiva, pode-se escrever:

f ( z ) = z k = 1 1 k ( z k ) {\displaystyle f(z)=z\sum _{k=1}^{\infty }{\frac {1}{k(z-k)}}} .

Esta série converge normalmente em C {\displaystyle \mathbb {C} } (como pode ser mostrado usando o teste M) para uma função meromorfa com as propriedades desejadas.

Expansões polares de funções meromorfas

Aqui estão alguns exemplos de expansões de polos de funções meromorfas:

tan ( z ) = n = 0 8 z ( 2 n + 1 ) 2 π 2 4 z 2 {\displaystyle \tan(z)=\sum \limits _{n=0}^{\infty }{\dfrac {8z}{(2n+1)^{2}\pi ^{2}-4z^{2}}}}
csc ( z ) = n Z ( 1 ) n z n π = 1 z + 2 z n = 1 ( 1 ) n 1 z 2 ( n π ) 2 {\displaystyle \csc(z)=\sum _{n\in \mathbb {Z} }{\frac {(-1)^{n}}{z-n\pi }}={\frac {1}{z}}+2z\sum _{n=1}^{\infty }(-1)^{n}{\frac {1}{z^{2}-(n\,\pi )^{2}}}}
sec ( z ) csc ( z π 2 ) = n Z ( 1 ) n 1 z ( n + 1 2 ) π = n = 0 ( 1 ) n ( 2 n + 1 ) π ( n + 1 2 ) 2 π 2 z 2 {\displaystyle \sec(z)\equiv -\csc \left(z-{\frac {\pi }{2}}\right)=\sum _{n\in \mathbb {Z} }{\frac {(-1)^{n-1}}{z-\left(n+{\frac {1}{2}}\right)\pi }}=\sum _{n=0}^{\infty }{\frac {(-1)^{n}(2n+1)\pi }{(n+{\frac {1}{2}})^{2}\pi ^{2}-z^{2}}}}
cot ( z ) cos ( z ) sin ( z ) = n Z 1 z n π = 1 z + 2 z k = 1 1 z 2 ( k π ) 2 {\displaystyle \cot(z)\equiv {\frac {\cos(z)}{\sin(z)}}=\sum _{n\in \mathbb {Z} }{\frac {1}{z-n\pi }}={\frac {1}{z}}+2z\sum _{k=1}^{\infty }{\frac {1}{z^{2}-(k\,\pi )^{2}}}}
csc 2 ( z ) = n Z 1 ( z n π ) 2 {\displaystyle \csc ^{2}(z)=\sum _{n\in \mathbb {Z} }{\frac {1}{(z-n\,\pi )^{2}}}}
sec 2 ( z ) = d d z tan ( z ) = n = 0 8 ( ( 2 n + 1 ) 2 π 2 + 4 z 2 ) ( ( 2 n + 1 ) 2 π 2 4 z 2 ) 2 {\displaystyle \sec ^{2}(z)={\dfrac {d}{dz}}\tan(z)=\sum \limits _{n=0}^{\infty }{\dfrac {8((2n+1)^{2}\pi ^{2}+4z^{2})}{((2n+1)^{2}\pi ^{2}-4z^{2})^{2}}}}
1 z sin ( z ) = 1 z 2 + n 0 ( 1 ) n π n ( z π n ) = 1 z 2 + n = 1 ( 1 ) n 2 z 2 ( n π ) 2 {\displaystyle {\frac {1}{z\sin(z)}}={\frac {1}{z^{2}}}+\sum _{n\neq 0}{\frac {(-1)^{n}}{\pi n(z-\pi n)}}={\frac {1}{z^{2}}}+\sum _{n=1}^{\infty }{(-1)^{n}}{\frac {2}{z^{2}-(n\,\pi )^{2}}}}

Transformadas de Laplace

Existe também, a partir da definição da função de Mittag-Leffler, o laplaciano L {\displaystyle {\mathcal {L}}} tal como o inverso L 1 {\displaystyle {\mathcal {L^{-1}}}} do mesmo. Para isso, adicionam-se parâmetros à função conforme proposto pelo matemático Prabhakar, veja as fórmulas abaixo:
  • Função com 3 parâmetros:
Sendo que E α , β p ( z ) = k = 0 ( p ) k z k Γ ( k α + β ) k ! {\displaystyle E_{\alpha ,\beta }^{p}(z)=\sum \limits _{k=0}^{\infty }{\dfrac {(p)_{k}z^{k}}{\Gamma (k\alpha +\beta )k!}}} é a função definida por 3 parâmetros, agora basta integrar na fórmula de Laplace e temos que o laplaciano é igual a L [ s α p β E α β p ( ± λ t α ) ] = s α p β ( s α λ ) p {\displaystyle {\mathcal {L}}[s^{\alpha p-\beta }E_{\alpha \beta }^{p}(\pm \lambda t^{\alpha })]={\frac {s^{\alpha p-\beta }}{(s^{\alpha }\mp \lambda )^{p}}}} e para o seu inverso obtém-se L 1 [ s α p β ( s α λ ) p ] = t β 1 E α β p ( ± λ t α ) {\displaystyle {\mathcal {L^{-1}}}\left[{\frac {s^{\alpha p-\beta }}{(s^{\alpha }\mp \lambda )^{p}}}\right]=t^{\beta -1}E_{\alpha \beta }^{p}(\pm \lambda t^{\alpha })} .
  • Função com 2 parâmetros: L [ t β 1 E α , β ( λ t α ) ] = k = 0 ( λ ) k s α k + β = s α β ( s α + λ ) {\displaystyle {\mathcal {L}}[t^{\beta -1}E_{\alpha ,\beta }(-\lambda t^{\alpha })]=\sum \limits _{k=0}^{\infty }{\dfrac {(-\lambda )^{k}}{s^{\alpha k+\beta }}}={\frac {s^{\alpha -\beta }}{(s^{\alpha }+\lambda )}}} e a transformada inversa é igual a L 1 [ s α β ( s α + λ ) ] = t β 1 E α , β ( λ t α ) {\displaystyle {\mathcal {L^{-1}}}\left[{\frac {s^{\alpha -\beta }}{(s^{\alpha }+\lambda )}}\right]=t^{\beta -1}E_{\alpha ,\beta }(-\lambda t^{\alpha })} .
  • Função com 1 parâmetro: L [ E α ( λ t α ) ] = k = 0 ( λ ) k s α k + 1 = s α 1 ( s α + λ ) {\displaystyle {\mathcal {L}}[E_{\alpha }(-\lambda t^{\alpha })]=\sum \limits _{k=0}^{\infty }{\dfrac {(-\lambda )^{k}}{s^{\alpha k+1}}}={\frac {s^{\alpha -1}}{(s^{\alpha }+\lambda )}}} e a transformada inversa é igual a L 1 [ s α 1 ( s α + λ ) ] = E α ( λ t α ) {\displaystyle {\mathcal {L^{-1}}}\left[{\frac {s^{\alpha -1}}{(s^{\alpha }+\lambda )}}\right]=E_{\alpha }(-\lambda t^{\alpha })} .

Ver também

Referências

  • Ahlfors, Lars (1953), Complex analysis, ISBN 0-07-000657-1 3rd ed. , McGraw Hill (publicado em 1979) Ahlfors, Lars (1953), Complex analysis, ISBN 0-07-000657-1 3rd ed. , McGraw Hill (publicado em 1979) .
  • Oliveira, Daniela dos Santos de (2014), Derivada Fracionária e as Funções de Mittag-Leffler.

Ligações externas

  • Hazewinkel, Michiel, ed. (2001), «Mittag-Leffler theorem», Enciclopédia de Matemática, ISBN 978-1-55608-010-4 (em inglês), Springer 
  • Mittag-Leffler's theorem, PlanetMath.org.